[Resenha]: Água Para Elefantes (Sara Gruen)

''É impossível descrever a ternura que de repente sinto por eles - hienas, camelos e todos os outros. Até pelo urso-polar, que está sentado no traseiro, mordendo suas unhas enormes com dentes de 10 centímetros. O amor por esses animais me toma de súbito, uma inundação repentina, e aí está ele, sólido como uma rocha e fluido como a água.''

 

Água para Elefantes, escrito por Sara Gruen, é um livro surpreendente. Dotado de uma história avassaladora, somos apresentados a personagens fascinantes, e a um enredo rico e apaixonante.

Jacob Jankowski, de 90 anos (ou seria 93? Bem, isso nem ele mesmo sabe dizer...) vive em uma casa de repouso na companhia de pessoas que não o alegram muito. Viúvo, e separado dos seus filhos, Jacob acaba vivendo uma vida pacata, tomado muitas vezes pelo seu mau humor constante, tornando-se rabugento e cada vez mais sozinho. Porém, as coisas começam a mudar graças à chegada de um circo na cidade, onde acaba por aflorar a juventude adormecida na vida de cada idoso dali, inclusive a de Jacob, que começa a ter memórias da sua vida de adolescente. Recordando-se do passado, ele nos leva até sua mocidade, onde conhecemos sua história de verdade.
Quando jovem, fazia faculdade de medicina-veterinária. Semanas antes das suas provas finais, quando finalmente estaria formado, Jacob acaba sofrendo o impacto da morte de seus pais. Sozinho e sem saber o que fazer da vida, foge sem rumo e cheio de dor. Foi assim, fugindo de um destino já traçado para um incerto, que ele acabou pulando em um trem. O que ele não sabia até então, é que aquele trem pertencia ao circo dos ''Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra''. A partir daí sua aventura começa.

Os capítulos do livro são alternados entre o passado e o presente de Jacob. A trama em si é maravilhosa, real e muito mágica. Ela nos proporciona uma onda de sentimentos sólidos a todo o momento. É impossível não rir, emocionar-se, ou ficar chocado diante de tantos acontecimentos, além da aflição e das surpresas que ele nos proporciona. A linguagem é simples e muito gostosa, e a leitura flui com bastante facilidade. Os personagens são muito bem descritos e construídos. E o livro é tão estimulante, que você não consegue parar de ler.

Outro ponto muito bacana na obra é a representação da relação entre os animais e os seres humanos. É lindo de se ver a intensidade e o amor de Jacob com os animais, principalmente com Rosie, a elefanta ''burra'' que, no fundo, era mais inteligente que muitos ali.

Confesso que esperava um pouco mais em relação ao romance perigoso de Jacob e Marlena. O desenrolar dessa história de amor foi grandioso e surpreendente, mas ainda sim deixou um gosto de quero mais. Porém, não há como negar que ambos foram bons, corajosos e extremamente apaixonados, não só pelo outro, mas também pela vida que levavam, e pelos animais.
O final é surpreendente, emocionante e admirável. Damo-nos conta de como o destino é extraordinário, mesmo quando chegamos a pensar que a vida nos virou às costas. 

''Eu me agarro à minha raiva com cada grão de humanidade que ainda resta no meu corpo arruinado, mas não adianta. Ela se esvai, como uma onda na praia. Estou refletindo sobre essa triste realidade quando percebo a escuridão do sono rodeando a minha cabeça. Ele está ali há algum tempo, esperando o momento certo e se aproximando cada vez mais. Abro mão da raiva, que a essa altura se tornou apenas uma formalidade, e faço uma anotação mental para voltar a ficar zangado pela manhã. Então me deixo levar pelo sono, porque realmente não há como lutar contra ele.''

 (Nota: Muito Bom!)