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23 de julho de 2011

[Resenha]: O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon)

Olá, pessoal!

Trago a resenha de O Menino do Dedo Verde, clássico da literatura infanto-juvenil (que não deixa de ser um clássico para os adultos!). Considerado por mim um dos meus livros preferidos, acho incrível como Maurice Druon consegue ser tão abrangente em críticas e reflexões de forma tão sutil e tão bela. O reli pela terceira vez e cá estou reformulando a resenha também! 


Título: O Menino do Dedo Verde (Tistou Les Pouces Verts)
Autor: Maurice Druon (Tradução de D. Marcos Barbosa)
Edição: 57ª
Editora: José Olympio
Páginas: 149
ISBN: 85-03-00137-3


"Tistu é um nome esquisito, que a gente não acha em calendário algum, 
nem do nosso país nem dos outros. Não existe um São Tistu.
Mas havia, no entanto, um menino a quem todos chamavam Tistu... 
E é preciso explicá-lo." [...] (p. 5)


O Menino do Dedo Verde (Tistou Les Pouces Verts, título original em francês), único romance infantil de Maurice Druon, não é apenas um clássico da literatura infantil universal. Segundo Dom Marcos Barbosa, tradutor do livro para o português, "certas obras não transcendem apenas as fronteiras dos países, mas também as fronteiras das idades". É uma obra-prima cheia de humor e poesia, que narra o processo de educação de um menino que busca entender o mundo em que vive e que vai deixando suas impressões digitais por onde passa.

Na cinzenta cidade de Mirapólvora é onde mora Tistu, em uma grande casa, a Casa-que-Brilha. Juntamente com ele, moram o Sr. Papai, Dona Mamãe e o seu querido pônei, Ginástico. Eles são ricos e o Sr. Papai é o proprietário da  fábrica de canhões da cidade. Quando Tistu chegou à idade de ir à escola, Sr. Papai recebia reclamações constantes dos professores de que seu filho só dormia nas aulas. Ao perceber que Tistu não aprendia as lições, seu pai resolve fazer com que seu filho aprenda as coisas vivenciando-as e, então, ele passa a ter aulas com o jardineiro Sr. Bigode e com o gerente da fábrica de canhões, o Sr. Trovões.

Em sua primeira aula de jardinagem, Sr. Bigode descobre um dom fantástico em Tistu: o menino tem o dedo verde e, com isso, tem o poder de fazer nascer flores onde ele encostar o seu dedo! Porém, "o polegar verde é invisível. A coisa se passa dentro da pele: é o que se chama um talento oculto"  (p. 39). Sendo assim, os dois mantêm este segredo e o jardineiro passa a ser conselheiro de Tistu.

Quando começa a ter aulas na fábrica de canhões com o Sr. Trovões, Tistu vê o lado triste do mundo: miséria, prisão, guerra, hospital. Resolve, dessa forma, alegrar os ambientes com seu dom especial. A partir deste dia, a vida em Mirapólvora começa a mudar...

O livro começa com uma crítica já às ideias pré-fabricadas que temos no mundo, pois, muitas vezes, ''as pessoas grandes não sabem mesmo o nosso nome, como também não sabem, por mais que o pretendam, de onde foi que viemos, por que estamos aqui e o que devemos fazer nesse mundo'' (p. 6).

Na terceira releitura, pude perceber mais a fundo outras críticas sociais no romance: críticas ao sistema de educação, ao sistema carcerário, à segregação social, à prisão dos animais, à motivação por detrás das guerras, ao capitalismo... Druon nos remete à uma metáfora surreal em cada situação, conseguindo também usar muito bem a simplicidade. O dom de Tistu passa a mudar o pensamento e comportamento das pessoas, o que antes parecia algo rígido, imutável.

Tistu é uma criança sensível, com senso de justiça, inocente e que nos permite pensar e aceitar a esperança e o otimismo como chaves para um mundo melhor. Também mostra o quanto vivemos cercados pelo comodismo de cada dia: ''A gente se habitua a tudo, mesmo às coisas mais estranhas'' (p. 65).

Mais do que recomendada essa leitura para crianças, jovens e adultos, sem dúvidas é um livro para eternas releituras, para cada época da vida, para reavivar as reflexões e as esperanças.

Com a leitura de O Menino do Dedo Verde, podemos fazer um paralelo ao clássico de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. Enquanto o último pertence a uma mitologia e é efêmero, O Menino do Dedo Verde está preso às situações frequentes, num aspecto sociológico, que envolvem nosso mundo. Tistu é alguém com a de missão de despoluir, humanizar e introduzir o lirismo no cotidiano, já que desaprendemos a vê-lo.

Incrivelmente apaixonante como O Pequeno Príncipe, sua mensagem é mais urgente e original. Como sugere a crônica de Nogueira Moutinho nas orelhas do livro: "Cremos estar presenciando o retorno do Pequeno Príncipe: como nas fábulas antigas, se disfarça de Tistu, para só revelar sua verdadeira identidade aos que como ele possuem um polegar verde."


"As pessoas grandes têm a mania de querer, a qualquer preço explicar o inexplicável. Ficam irritadas com tudo que as surpreende. E logo que acontece no mundo algo novo, obstinam-se em querer provar que essa coisa nova se parece com outra que já conheciam há muito tempo." (p. 59)

(Nota: Excelente!)

2 comentários:

  1. Isabella,
    Como eu comentei na postagem acima, sobre Maurice Druon, estava curiosa a respeito desse livro. Lendo a sua resenha, fui lembrando-me da história dele, que já tinha sido-me resumida por alguém. Achei fora de série, de verdade.
    Uma temática linda e, nota-se pelos trechos, impregnada dessa poesia infantil que é, afinal, atemporal. Um encanto a todas as idades e ele é, de certa forma, metafórico com toda a sua idealização da felicidade, ao que me parece.
    Quanto ao seu comentário lá no blog, faço questão de mostrar aos meus leitores o quanto a literatura brasileira, a nossa literatura é rica, cheia dos nossos costumes, da nossa identidade e de um lirismo únicos. Lygia Fagundes Telles é, para mim, uma exímia contista. E Verissimo é marcante com suas histórias poéticas, sem muitos rodeios ele consegue ser único. Tenho orgulho da arte que aqui se faz.

    Beijinhos,
    Ana - Na Parede do Quarto

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  2. Que resenha perfeita!!! Acabei de ler o livro e amei a mensagem que ele passa, mas que final hein...

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