Título: O Apanhador no Campo de Centeio
Autor: J.D Salinger (Jerome David Salinger)
Editora: Editora do Autor
Edição: 17ª
Páginas: 207
ISBN: 85-87575-01-5

O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D Salinger, conta a história e narra um fim de semana na vida de Holden Caulfield, um adolescente de 17 anos que acaba de ser expulso do Colégio Pencey, um internato para rapazes, não sendo esta sua primeira expulsão de uma escola.
Com isso, ele volta para casa mais cedo no inverno e, sem seus pais saberem ainda do acontecido, propõe a si mesmo adiar o encontro com a família.
Nesse período, Caulfield passa a refletir sobre os acontecimentos de sua vida, vivencia coisas diferentes, repensa seus objetivos e metas e reencontra pessoas como (ex-professores, uma antiga namorada, sua irmãzinha Phoebe) para de, alguma forma, tentar explicar ou desabafar aquilo que se passa na sua mente: transformações, mudanças, sonhos...
O que fez com que um livro aparentemente banal, com acontecimentos na vida de um adolescente que nem são tão extraordinários assim, para ser hoje um referencial de leitura e uma das obras mais aclamadas no que se refere ao comportamento jovem?
Escrito em 1951, O Apanhador no Campo de Centeio captura muito do jovem da época, sendo uma obra que demonstra claramente o quão desfocados da sociedade os jovens eram, visto que a adolescência era considerada apenas uma fase de transição.

Sendo a obra uma referência marcante da literatura norte-americana contemporânea, também traz consigo a missão de expôr a estrada que os jovens percorreram e percorrem para provar que têm sim o direito de ter uma visão e opinião formada sobre o mundo em que vivem.
Não há resquícios de uma narrativa com grandes emoções, surpresas, nem nada. É apenas um garoto voltando para sua casa. A questão é que foi a primeira vez em um livro que os adolescentes foram estudados à fundo e se identificaram com a espécie de porta-voz que Holden Caulfield significou para eles. O mundo desses jovens pela primeira vez havia sido exposto de forma natural, sintonizada com a realidade.
Se utilizando do uso de gírias e expressões "chulas" da época, J.D Salinger infiltrou em Holden Caulfield uma personalidade revoltada, colocando nele o que um rapaz de sua idade pensa: anseios do futuro, incertezas, planos, sonhos, garotas...
Vê-se em Holden Caulfield a resistência em se tornar como os mais velhos que conhece, pois, segundo sua concepção, os considera farsantes. Luta para preservar seus valores, os quais julga honestos e sinceros, e isso, com uma linguagem simples que aproxima aquela gente que ainda não tem muita paciência "pra esse negócio de literatura".
É sabido também que este livro tem certa fama de ser uma Teoria da Conspiração, posto que teria inspirado o assassino de John Lennon, Mark Chapman, a cometer o crime que o deixou mundialmente famoso em 1980.

"Quando perguntaram a Mark Chapman por que ele matara John Lennon, disse: 'Leia O Apanhador no Campo de Centeio e você descobrirá porque o fiz. Esse livro é meu argumento'".

Como prometido, aqui estou com a resenha. Quis trazer algo diferente do que a blogosfera tem costumado trazer. Busquei algo mais clássico e de conteúdo mais crítico.
Contudo, me decepcionei um bocado com a obra. Era de se esperar por mim que seria simplesmente "o livro".
Achei a narrativa fácil e leve, o que é um ponto a favor, mas no fundo, não senti aquele "NOOOOOSSA" pelo texto. Creio que Holden Caulfield é um adolescente cheio de dúvidas e incertezas, mas é um garoto pretencioso e altamente revoltado que faz reclamação de tudo e todos. Na minha visão, a cabeça de um adolescente é mesmo crítica e cheia de ideias para colocar pra fora, mas suas gírias repetitivas e sua revolta (algumas, claro, com motivo) cansam um pouco.
Há trechos interessantes sim, mas discordo no que diz respeito à uma obra em que todos deveriam ter como leitura. Não é bem um referencial, embora, como eu disse acima, compreendo o fato de ser inserido na época de pouca valorização dos adolescentes pela sociedade. Ousado pra época, marcou presença com um estilo simples, mas nos dias de hoje muitas coisas soam de forma diferente. Talvez isso se deva ao fato que o leitor se identifique com todo o pensamento adolescente e a linguagem acessível.
Fato é que ainda assim recomendo a leitura mesmo com um ponto de visto não tão favorável. Acho interessante buscarmos leituras mais clássicas e procurar uma discussão mais interior com esse tipo de obra. Há os que aclamam em demasiado o livro, mas fica aqui o meu legado! (risos)

Alguns trechos que julguei relevantes:

"Entraram em órbita, igualzinho aos imbecis que riem como umas hienas, no cinema, das coisas sem graça. Juro por Deus que, se eu fosse um pianista, ou um ator, ou coisa que o valha, e todos aqueles bobalhões me achassem fabuloso, ia ter raiva de viver. Não ia querer que me aplaudissem. As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas. Se eu fosse pianista, ia tocar dentro de um armário." (p. 86)
"Estou sempre dizendo : 'Muito prazer em conhecê-lo' para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo. [...] As pessoas estão sempre atrapalhando a vida da gente." (p. 89)

" [...] entraram duas freiras, com valises e tudo [...] As valises eram daquelas baratas pra burro - das que não são de couro de verdade nem nada. Isso não tem grande importância, eu sei, mas odeio ver alguém com essas malas ordinárias. É chato confessar, mas sou capaz de odiar alguém, só de olhar, se a pessoa estiver carregando umas valises iguais àquelas." (p. 108)

"O Professor Antolini ficou uns dois minutos em silêncio [...] - Esta queda para a qual você está caminhando é um tipo especial de queda, um tipo horrível. O homem que cai não consegue nem mesmo ouvir ou sentir o baque do seu corpo no fundo. Apenas cai e cai. A coisa toda se aplica aos homens que, num momento ou outro de suas vidas, procuram alguma coisa que seu próprio meio não lhes poderia proporcionar. Ou que pensavam que seu próprio meio não lhes poderia proporcionar. Por isso, abandonam a busca. Abadonam a busca antes mesmo de começá-la de verdade [...]." (p. 182)

"Detesto dizer isso, mas acho que, assim que você tiver uma ideia de onde quer chegar, seu primeiro passo vai ser aplicar-se no colégio. É o que você vai ter que fazer. Você é um estudante - quer a ideia lhe agrade ou não. Você está apaixonado pelo conhecimento. E eu acho que você vai encontrar [...] Entre outras coisas, você vai descobrir que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada, e até enjoada, pelo comportamento humano. Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno, e se sentirá estimulado e entusiasmado quando souber disso. Muitos homens, muitos mesmo, enfrentaram os mesmos problemas morais e espirituais que você está enfrentando agora. Felizmente, alguns deles guardaram um registro de seus problemas. Você aprenderá com eles, se quiser. Da mesma forma que, algum dia, se você tiver alguma coisa a oferecer, alguém irá aprender alguma coisa de você. É um belo arranjo recíproco. E não é instrução. É história. É poesia." (p. 183, 184)


(Nota: Regular!)

4 Comentários

  1. gostei do livro :))
    Mais num me interessei por ele.
    Mais boa resenha, ISA ^^

    BEIJOS:*
    Natalia.
    # Músicas, livros e blábláblá

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  2. Oi!

    Minha mãe é doida pra eu ler classicos. Não me interesso muito, principalmente, pela linguagem as vezes rebuscada demais. Pelos trechos que você disponibilizou, parece leve e fácil. No entanto, Holden parece meio pretencioso. Como um garoto odeia uma pessoa por carregar uma valise barata? Não fiquei interessada, mas, quem sabe, um dia leia. É importante conhecer os classicos, né?

    Beijos
    Mulher gosta de falar

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  3. Já vi muito esse livro em filmes e séries, e mantive uma curiosidade imensa sobre ele até hoje sem ler uma sinopse, mas agora que a li vejo que tudo que pensei sobre esse livro estava errado. O descaso com a adolescência, uma fase tão perigosa, era de se esperar que naquele tempo a sociedade não ligasse muito para coisa, fazendo pouco caso. É engraçado pois, pelo que disse, o livro é bem simples, mas com uma bagagem de profundidade imensa, que acabou tornando-o uma referência sem igual. Nós jovens temos mesmo esse pensamento revoltante na maioria das vezes, o futuro incerto, as garotas, os sonhos, é tudo muito relativo e importante, e parece que esse livro foi um divisor de águas, que o autor mostrou o que devia ter sido mostrado na época, o que os jovens precisavam ler, por isso se identificaram tanto. Uma comparação nada fiel, mas vejo como uma menininha toda perdida que lê uma Thalita Rebouças pela primeira vez e se encontra naquele livro. Não sabia desse caso do John Lennon envolvendo esse livro, é uma pena que o livro aparentemente tão bom possa perder credibilidade por causa de um leitor que aprendeu a mensagem errada. Acho que para época foi um achado, mas hoje em dia se tornou um clássico que não mexe tanto com os leitores atuais, como aconteceu com você e provavelmente aconteça comigo. Estou curioso para lê-lo e ver o que vou achar dele, parabéns por trazer os clássicos para blogosfera também. Beijão Isa!

    ;* Livros, Letras e Metas

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  4. Olá, Isa! Como vai?
    Gostei imensamente da sua resenha e do ponto de vista apresentado que, confesso, acabou por denegrir a minha opinião anterior à leitura, que era um clássico norte-americano e que merecia imensamente a minha atenção.
    Fato um, como você mesma citou, tratava-se de um diferencial na época, abordar a mente de um adolescente sem pudores, com realismo e gírias, aproximando-o do leitor jovem e cheio de descaso com a Literatura mais adulta. Seria a mesma coisa que os primeiros sobrenaturais a surgirem hoje, um Tolkien, por assim dizer, chegando e revolucionando o mundo das fantasias. Daqui a alguns anos, querendo ou não, embora a história seja excelente, não exercerá o mesmo fascínio no leitor que já se habituou a seres de outro mundo haha
    Fato dois, por ser clássico, às vezes nos colocam muitas expectativas e, quando vemos, não era tudo aquilo que diziam ter sido...
    Acima de tudo, creio que o jovem aprecie ser compreendido e foi isso que o autor provavelmente fez, compreendeu.
    Assim como o Caíque, fiquei surpresa quanto à revelação sobre o assassino de John Lennon, que era um louco por responsabilizar um livro por seus atos hediondos... Mas, ainda assim, nota-se no primeiro dos seus trechos relevantes essa ideologia notável de que os artistas que se exibem e se permitem ser aplaudidos são "hipócritas", na visão do protagonista.
    Ah, são jovens, o que fazer! Rebeldia está aí, né...
    Por fim, acho que compreendi o porquê de sua nota e não continuarei a me culpar por ainda não tê-lo lido.

    Quanto ao que você falou lá no blog, realmente sou uma incontestável apreciadora da obra de Lygia, e tenho certeza de que você teve uma ótima experiência em ler alguns contos de "Antes do Baile Verde", que é meu livro predileto dela. Incentivar a Literatura Brasileira é uma missão que gosto de cumprir.

    No mais, perdoe-me o imenso comentário (ou seria, fique contente com ele? eiueheiuh Particularmente falando, adoro os comentários enormes), mas a discussão era ampla e merecia muitos pontos de vista.

    Beijinhos,
    Ana - Na Parede do Quarto

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