Lendo a respeito da Imprensa Colonial em um livro de Nelson Werneck Sodré, me deparei com um tópico que trata sobre o impedimento da arte de multiplicar textos. Estes, inclusive, que acompanharam e serviram como iniciativa a ascensão burguesa. O fato é que enquanto a nova terra (o Brasil) integrava o mundo conhecido, o livro e a técnica de fazê-lo assumiram o aspecto herege e herético que atraía maldição e condenação.

É curioso estudar essa questão, porque o livro e o seu poder de disseminação continuam exatamente iguais. A diferença hoje é que naquela época eles estavam sujeitos a três censuras: a episcopal, a da Inquisição, e a Régia. Estas superioridades firmavam a proibição de qualquer obra ''sem primeiro ser vista e examinada...''. Em outras palavras, os livros dependiam das autoridades civis para serem impressos.

Quem já teve a oportunidade de assistir o filme O Nome da Rosa, dirigido por Jean-Jacques Annaud, e adaptado da obra do autor Umberto Eco, ou até mesmo já tenha lido a narrativa, pôde acompanhar um pouco sobre essa realidade, a de que o livro sempre fora visto com extrema desconfiança, só natural nas mãos dos religiosos. Até as bibliotecas, por exemplo, existiam apenas nos mosteiros e colégios, mas nunca em casas particulares. O ato era visto como crime, até porque os poderosos temiam o poder da leitura sobre as pessoas. O objetivo era se manter no poder e fazer com que todos permanecessem submissos às leis sem o menor direito a contestações. 

Foi apenas em meados do século XVIII que começaram a aparecer bibliotecas particulares, mesmo que ler ainda estivesse sendo considerada uma indesculpável impiedade, ou uma prova de crimes inexpiáveis. A entrada desses livros, deste modo, eram feitos de formas clandestinas e perigosas. 

Foram por esses e por demais motivos, intitulados de destruição cultural, que o Brasil não conheceu nem a universidade e nem a Imprensa no período colonial. Os poderosos impediram a nossa autonomia na vanguarda liberal desde o início da nossa história como civilização. Muitos acontecimentos que nos definem, e fatos marcantes, de certo modo, sempre chegaram com atraso às terras brasileiras. Será deste modo que os problemas foram implantados?

Bem, o fato é que a charada da leitura ainda é evidente. Somos uma nação rica de leitores, mas que ainda está longe de se destacar como tal. Muitos ainda veem a leitura como uma perda de tempo, ou uma obrigação, mas acontece que o período colonial acabou faz tempo, e que hoje temos a autonomia para criarmos nossas próprias ideologias e os nossos pensamentos. Somos pessoas livres, com opinião própria, direitos e deveres. E muitas dessas coisas devemos as leituras que realizamos e a forma como elas introduzem ideias e pensamentos nos conceitos que já temos pré-estabelecidos sobre as coisas. 

As experiências que adquirimos e a visão que criamos possuem um valor inestimável. Por isso, apelo para vocês que não desistam de incentivar o próximo. Mostrar o poder transformador que a leitura possui é algo importantíssimo... além de estarmos fazendo a nossa parte, estaremos contribuindo para mudar o rumo de uma história que se perdeu no início, mas que foi capaz de se refazer e de reduzir suas tendências ineficazes.

9 Comentários

  1. Interessante o texto!! Eu não sabia dessa história, e agora dá para entender que a culpa também não foi 100% nossa, né? Mas infelizmente muita gente ainda mantém a mente fechada achando que livros são chatos :/

    help-adolecentro.blogspot.com.br/

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  2. Oi, Francielle, adorei o texto! Muito bem escrito, e o assunto é muito importante. Eu fico triste ao saber que os leitores eram considerados pecadores, mas me alegro que essa ideia quase se acabou.

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  3. Felizmente hoje podemos ir ao encontro do livro que bem entendermos. Nas livrarias, bibliotecas, bancas... Ainda bem que não nasci no período colonial. :)

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  4. Pra começar "o nome da rosa" é maravilhoso, mesmo. O ato de ler transforma pessoas. Todas as pessoas interessantes lêem, e isso é fato. Melhora vocabulário, escrita, fala, pensamento, enfim, ler é a melhor coisa do mundo, é dádiva.

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  5. Muito interessante conhecer um pouco mais sobre essa historia
    Ainda bem que hoje temos bem mais acesso

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com.br

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  6. Olá! *.*
    Em primeiro lugar adorei o seu artigo, muito bem escrito (: em segundo, é muito interessante vermos que está aumentando o números de leitores no nosso país, por isso eu nunca deixo de incentivar.
    Meu avô leitor assíduo incentivou meu pai, que me incentivou, que incentivei minha prima e que por sua vez incentivou minha tia (: e que o ciclo continue.

    Marinah | www.marinahgattuso.blogspot.com <3

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  7. Lembro bem que você já havia comentado comigo sobre esse filme e livro comigo, comecei a assistir mas parei pretendo assisti-lo. Mudando de assunto... A leitura é uma das melhores coisas do mundo e ainda não entendo por que as pessoas não gostam de ler, são tantas coisas que ganhamos com ela um bom vocabulário, melhora a escrita \õ.

    Até mais!
    Entre Livros e Livros.
    http://musicaselivros.blogspot.com.br/

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  8. Oi!
    Nossa, adorei o texto. Super concordo com a sua posição e até ouso ressaltar novamente que o livro, ainda hoje, não é um objeto que muitas pessoas o usam de forma correta. Há livros com um valor cultural e histórico maravilhoso, mas muitas pessoas não se importam.
    O livro ainda continua sendo uma grande arma contra a ignorância.
    Abraço!

    "Palavras ao Vento..."
    www.leandro-de-lira.com

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  9. Felizmente isso passou, mas como você disse mesmo nessa época atual, muitas pessoas acham a leitura perda de tempo e mal elas sabem no que estão falando, no poder de que um livro pode dar.
    Adorei essa postagem, foi muito bem escrita ♥
    Beijinhos
    Facebook do blog
    conversando-com-a-lua.blogspot.com.br

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