No segundo post da série "Literatura no Brasil", iremos conversar um pouquinho sobre uma expressão conhecida desde o século XVII graças aos acontecimentos religiosos, políticos e sociais, como dualista e contraditória: o Barroco. Suas principais características são a morbidez, a oposição entre o mundo material e o mundo espiritual, o gosto por raciocínios completos, o cristianismo, dentre outros.

A influência barroca manifestou-se nas pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas e palácios. Esse é o afresco da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), por Manuel da Costa Athayde. Fonte: Só Literatura.

Esse momento histórico é marcado por duas frentes: de um lado, o sensualismo do Renascimento; do outro, uma forte onda de religiosidade. Nessa época, os colonos portugueses que habitavam o Brasil, geralmente advogados, religiosos ou homens das letras, tinham interesse na exploração da cana-de-açucar. Foi assim que eles se tornaram os responsáveis pelo nascimento da literatura no país.

Mas a nossa realidade era bem diferente da portuguesa. Inicialmente frágil e marcada pela violência da escravidão e da perseguição aos índios, o Brasil não apresentava o luxo da aristocracia portuguesa. Apesar disso, o Barroco, que representava o homem entre o céu ao inferno e a sua dimensão carnal e espiritual, conseguiu dar seus primeiros passos por aqui.

A obra considerada o marco inicial do Barroco brasileiro é Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira (1561-1618). Mas existem outros escritores barrocos muito importantes, sendo eles:
  1. Na poesia: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica;
  2. Na prosa: Pe. Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira.
Os grandes destaques são Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira.

Gregório de  Matos (1633-1696) é o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e satírica em nosso país. Matos era do tipo que afrontava os valores e a falsa moral da sociedade baiana de seu tempo. Em vida, não publicou nenhuma obra, mas seus poemas eram transmitidos oralmente até meados do século XIX (muitas vezes considerados de autoria controvérsia).

Além de superar os limites do Barroso, Gregório de Matos cultivou três vertentes de poesia lírica em nosso país: a amorosa, a filosófica e a religiosa. A amorosa é marcada pelo dualismo amoroso que nos leva a um sentimento de culpa. Na lírica destaca-se o desconcerto do mundo e às funções humanas. A religiosa, por sua vez, obedece os princípios do Barroco europeu.

Já Antônio Vieira (1608-1697) é a principal expressão do Barroco em Portugal, e sua obra pertence tanto à literatura brasileira quanto à portuguesa. Embora muito religioso, Vieira sempre focava seus sermões a serviço das causas políticas que defendia, postas em prática através da catequese. Ele pregava a índios, brancos e negros, a brasileiros, africanos e portugueses, todos igualmente.

Vieira também teve um pouco de profeta, chegando a escrever três obras com esse conteúdo: História do Futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum. O que o caracteriza como um escritor barroco foi a sua formação jesuíta aliada à estética barroca difundida, quando pronunciava sermões de expressões ideológicas e literárias da contrarreforma.
Temas frequentes na Literatura Barroca:
- fugacidade da vida e instabilidade das coisas;
- morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
- castigo, como decorrência do pecado;
- arrependimento;
- narração de cenas trágicas;
- misticismo;
- apelo à religião.


No próximo post dessa série, iremos pular certa de 150 anos até o Arcadismo brasileiro, também conhecido por Neoclassicismo europeu. Até lá!
Abraços,


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Referência: CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza. Conecte: literatura brasileira. São Paulo: Saraiva, 2011.

2 Comentários

  1. Tenho que confessar que quando ouço "barroco" normalmente penso em pinturas e esculturas, mas raramente em literatura. Com esse seu texto tenho impressão de que foi aí que realmente começou a nascer nossa literatura, Fran. Afinal, foi uma época que realmente marcou a cultura brasileira. Enfim, estou adorando esse seu especial.

    Beijos!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  2. Confesso que a tempos não estudo sobre esses temas, mas tenho recordações da época da escola. Sempre gostei de literatura, mas acabei me afastando em certo aspecto, academicamente falando e estou amando essa coluna por me ajudar a "refescar" a memória. Beijos e obrigada!!!!

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