Título: O Torreão
Autor: Jennifer Egan
Edição: 1
Editora: Intrínseca
Páginas: 240
ISBN: 
9788580571905
Nota: 3,5 de 5



Como lidar com a ideia de não se sentir tão aliciada por uma obra tanto quanto seus demais leitores? Será o momento que foi inoportuno à leitura? Ou será que o enredo não foi tão atrativo como deveria ser? Estas perguntas transbordaram a minha mente após a leitura de O Torreão, escrito por Jennifer Egan, que apesar de encantador e reflexivo, não superou todas as minhas expectativas.

Narrado em terceira pessoa nas duas primeiras partes, e em primeira na terceira e última, a narrativa, que se alterna durante toda a obra, nos oferta de antemão a história dos primos Danny e Howard. Danny é um nova-iorquino viciado em celular e nas tecnologias existentes no mundo. Quando Howard, de quem havia se afastado após uma brincadeira de mau gosto na adolescência, o convida para conhecer o castelo europeu que comprou e está reformando com a intenção de transformar em hotel de luxo, Danny acha que é uma boa oportunidade para retomar o contato e ao mesmo tempo fugir da confusão que arrumou em seu último emprego. Ao chegar lá, no entanto, as coisas começam a ficar estranhas. O torreão do castelo, que serviu de fortificação durante muitos séculos e resistiu a diversas tentativas de invasão, ainda é ocupado pela antiga proprietária – uma baronesa sinistra que parece velha demais para estar viva. Uma piscina mal-assombrada e um traiçoeiro labirinto subterrâneo completam a aura de mistério do lugar. Quando o pânico toma conta de Danny, ele descobre que a "realidade" pode ser algo em que não consegue mais acreditar. 

Há outro personagem que eu não poderia deixar de citar, uma vez que ele faz parte direta do enredo tanto quanto os outros. Este é o Ray, um presidiário que frequenta aulas de escrita. São as suas partes onde as narradas são em primeira pessoa, inclusive. Com ele presenciamos seus dias na prisão, além de termos a chance de conhecer os personagens secundários que o acompanharam nessa jornada. E está tudo interligado: o motivo dele estar ali, o que ele escrevia enquanto esteve preso, as lembranças e as diferentes cenas mescladas na qual somos levados a ler. Mas o que é ou não real ali?

É deste modo, de maneira inventiva e subvertendo os limites entre a fantasia a e realidade – porque há momentos em que o leitor não consegue discernir o que é sonho, pensamento, real ou ilusão – que Egan no remete a uma história. Uma narrativa que, na realidade, está dentro de outro enredo (entendedores entenderão). Um pouco confuso? Sim, é mesmo! Mas limito-me a fornecer mais informações (isto é, não quero dar spoilers)... desculpem, vocês precisarão aventurar-se para saberem mais. 

Uma qualidade da escrita de Egan (para alguns) é o formato em que ela costuma narrar suas criações literárias, deixando pontas soltas (mesmo quem não leu ainda A Visita Cruel do Tempo – como eu – passa a perceber isso)... acredito que seu objetivo é atiçar a nossa imaginação, fazendo de nós narradores da sua própria história. Em alguns casos isso se tornaria chato, e com exagero, de fato, é. Em O Torreão isso por vezes se torna meio enfadonho, mas devo confessar que há momentos em que é bom deixarmos de lado as narrativas tão mastigadas e ofertadas de bandeja, para partimos em busca de algo mais complexo e pensante. A sensação é diferente, e bem interessante de ser sentida e apreciada.

Uma questão interessante a ser pautada também é a diagramação do livro. Os diálogos se mostram muito confusos, todos misturados e sem sinalização. Se for lido com atenção não há como se perder, e claro que todo livro deve ser lido com zelo, mas isso me deixou bastante frustrada. Não sei se é próprio da narrativa, ou da organização em que o livro recebeu, mas gostaria que não fosse assim. Uma melhor organização não mata e nem arranca pedaço, concordam?

Enfim, o enredo como um todo possui, sim, pitadas de emoção e nostalgia, fragmentos impactantes e passagens marcantes tal qual chega a ser impossível não se identificar, ou colocar-se exatamente naquele lugar como um personagem vivo, imaginando o que teria sido feito se ali estivesse. Porém, não sai estagnada após a leitura, sedenta e/ou morta de amores; impressionada com o que vi. Isso me chateou e está sendo difícil superar o desapontamento... mas, bem, atribuo a culpa unicamente a mim, pois cai na bobagem de depositar todas as probabilidades e perspectivas possíveis acima do castelo mágico de Howard (coisa que eu ainda nem sei se de fato existiu). E não que ele não seja encantador (ele é!), só não foi sedutor para mim.

No mais, indico a todos que buscam uma obra complexa, diferente e carregada de sabedoria. Aventure-se no Torreão, mas lembre-se que nele suas antigas lembranças podem ser revividas. Será que você está disposto a isso?


''Um grande portão de ferro, duas torres. Uma porta lateral que leva  para dentro. Tudo isso é tão familiar que parece que é a segunda vez que venho. Será que Ray descreveu isso tudo tão perfeitamente bem? Não tenho certeza.''
Pág. 231

9 Comentários

  1. Salve Fran, que bom encontrar o seu cantinho, tu és uma ótima resenhista.

    Quem ama livros, abraça a sabedoria, e esse tesouro só acrescenta.

    Amei o seu blog, sigo-o com prazer

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  2. Eu morro de vontade de ler esse livro.
    Poxa, que pena isso da diagramação, geralmente é algo que eu reparo muito nos livros.
    Mas, ainda assim, estou curiosa para ler.
    Eu fiquei tão triste por ter perdido a Flip esse ano, a Jennifer estava lá rsrs
    Beijinhos
    http://fulanaleitora.blogspot.com.br

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  3. Hey, Fran!
    Parabéns pela resenha. Logo de início já tive uma perspectiva sobre este livro e fiquei interessada em lê-lo. Entendi (acho, né?!) o significado da capa, que por vezes me instigava.

    Beijos :*
    Natalia.
    http://musicaselivros.blogspot.com.br/

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  4. Já li A Visita Cruel do Tempo e foi um livro no qual gostei bastante, confesso que fiquei meio confusa com o enredo dessa história, mas fiquei curiosa para entender melhor o livro. Eu imagino que a diagramação sem uma separação adequada dos diálogos seja do livro mesmo e não da editora, e entendo que isso incomode bastante.

    Adorei a resenha!

    Beijo;*
    Naty.

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  5. A resenha ficou muito boa! Tenho muita curiosidade em relação a este livro ou em qualquer outro da Jennifer Egan haha. Apesar de alguns pontos negativos, eu leria este livro sim porque a estória me chamou a atenção.
    Beijos.

    http://palavrasdeumlivro.blogspot.com.br/

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  6. Olá!
    É a primeira vez que ouço falar de um livro da Intrínseca com tal diagramação. Eu gosto bastante dessa editora justamente porque acho os livros extremamente bem feitos.
    Eu não tinha muito interesse nesse livro, mas também nem sabia do que se tratava. Estou precisando ler um livro desse tipo, só para dar uma pausa na série chick-lit Sociedade Secreta.
    Parabéns pela resenha
    Beijos

    Andressa
    umdiaacadalivro.blogspot.com.br

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  7. Amoamo Jennifer Eagan. De fato, o estilo dela é bem confuso, mas com o tempo se habitua...

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  8. Fran, sua resenha, primeiramente, ficou fantástica. E não se culpe por não ter gostado de algo que quase todo mundo gostou. Acontece, né?
    Eu, para ser honesta, apesar das várias resenhas positivas, confesso não ter ficado muito comovida com a temática do livro, nem tampouco interessada nesse estilo distinto de Jennifer Egan. Não costumo gostar de narrativas muito confusas. Elas me lenmbram de Clarice Lispector hahaha
    Beijooo!

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  9. Eu já disse que suas resenhas são fantásticas, verdadeiras e compõe de certa forma, uma determinada influência na hora da aquisição de livros que por vezes me deixam em dúvida se valem ou não à pena? Pois bem, é isso mesmo.
    Adorei sua resenha. Eu não criei muita expectativa com relação as obras da autora - vulgo, a grande demanda e burburinho que foi causado na blogosfera e afins - mas eu sempre me senti atraído por suas obras.
    Vejo que pareçe ser um livro realmente bom - apesar da diagramção, que é bem chatinha mesmo - mas acho que deve valer a pena.
    Assim que tiver oportunidade, irei lê-lo.

    Abraços
    Ronaldo Gomes
    livrosobrelivro.blogspot.com

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Boas sugestões e opiniões construtivas são sempre bem-vindas. Obrigada por sua visita!