Em janeiro deste ano vários sites brasileiros divulgaram a campanha criada pela americana Marley Dias, de apenas 11 anos. O projeto, chamado por ela de #1000BlackGirlBooks, tinha o propósito de juntar mil livros com protagonistas negras para serem doados em um festival que ocorreu este mês na região de St. Mary, Jamaica. Essa ideia começou com uma frustração: a pouca quantidade de livros com personagens negros.

Mais ou menos na mesma época em que a campanha foi noticiada, a diversidade dos indicados ao Oscar (ou seria a sua falta?) se tornou motivo de polêmica. Muitos atores negros até ameaçaram boicotar a cerimônia devido a escassa indicação de negros à estatueta. Isso gerou uma série de matérias onde o racismo contra 'brancos' fora bastante enfatizado, o que, consequentemente, gerou uma enxurrada de comentários adversos na internet.

Esses e tantos outros casos nos levam a uma questão pertinente: a representação da raça negra na literatura. Como o Drops Literário é uma coluna de opinião sobre assuntos relevantes para a blogosfera literária (e conta com a participação de um convidado), resolvi abordar a temática, mesmo que de forma geral, para suscitar entre os leitores deste Universo uma reflexão real sobre o assunto.

Para tanto, contei com a ajuda do meu namorado, David Souza. David é negro e vive debatendo sobre as formas se inserção de sua raça na sociedade. Abaixo você confere a visão dele sobre o tema, seguida pela minha. 

Imagem: Google.

David: Eu sou negro e adoro personagens caucasianos. Até me identifico com alguns por conta da personalidade, pois é assim que eu os vejo, independente de cor. A questão em si é que sempre vemos uma disparidade nas representações. Por exemplo, sempre encontramos nas narrativas descrições sobre os cabelos sedosos ou acerca dos olhos claros de um certo indivíduo, mas o tom da pele já é exposto nas entrelinhas. Salvo as biografias de ícones da raça negra, atualmente existem poucos personagens negros importante (ou quase nenhum), inclusive na ficção. Nós, negros, não queremos dominar o mundo ou fazer polêmica com tudo. Só queremos, às vezes, ver alguém semelhante fisicamente a nós. De preferência, que não seja somente descrito como escravo ou coisas estereotipadas pela história suja que a escravidão trouxe para a história do mundo. Só queremos, necessitamos e precisamos estar incluídos como pessoas que somos.

Fran: Sinceramente, antes de ler sobre o caso de frustração da menina Marley, eu não havia atentado ao fato de que que, realmente, é difícil encontrar personagens negros em best-seller (dei esse exemplo porque eles são mais difundidos). Talvez porque eu acabo me apegando mais a personalidade em si; talvez porque, para mim, as ações importam mais que a cor. E eu adoraria que mais pessoas tivessem esse pensamento, e que o racismo não estivesse mais tão em evidência. Contudo, infelizmente, o preconceito permanece mais vivo que nunca. E é justamente por isso que eu acredito que a raça negra deve ser inserida com mais evidência na literatura, no cinema e nas artes em geral. Para que essa imagem transmita os ideais da tolerância e da igualdade; para que os negros não fique (ou não se sintam) a margem da sociedade; e para que eles tenham sua merecida representação sem qualquer ridicularização. Porque ridículo é desmerecer alguém somente pela cor.


E você, gostaria de fazer alguma consideração sobre o assunto?
Abraços.

Um Comentário

  1. Fran e David, vocês arrasaram. Não há o que discordar de vocês. Também costumo me apegar mais às personalidades dos personagens do que às características físicas, de modo que só agora fiz uma retrospectiva do que li nos últimos anos e percebi que realmente pouquíssimos livros tem protagonistas negros. É realmente algo a ser debatido, pois se queremos um mundo onde as pessoas são avaliadas pelo caráter e a cor da pele seja apenas um detalhe então a ficção deve tratar a miscigenação de forma real e saudável.
    Coincidentemente ainda hoje comentei com minha prima questão do Oscar. Ambas concordamos que poderiam aumentar o número de indicados. Primeiro que apesar de ótimos atores negros terem ficado de fora não podemos dizer que algum dos indicados não mereceu estar lá. E segundo que parece que a cada ano são feitos mais filmes, e com apenas cinco indicados em cada categoria muita coisa boa é obrigada a ficar de fora. Ou ainda fazer como as premiações de TV que tem as categorias por gênero de produção. Mas é só uma opinião. Enfim, um assunto que ainda precisa ser muito debatido.

    Beijos!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

Boas sugestões e opiniões construtivas são sempre bem-vindas. Obrigada por sua visita!