Título: Querida Sue
Autor: Jessica Brockmole
Edição: 1
Editora: Arqueiro
Páginas: 256
ISBN: 9788580412635
Nota: 4 de 5
SINOPSE: Março, 1912: A jovem poeta Elspeth Dunn nunca viu o mundo além de sua casa, localizada na remota ilha de Skye, noroeste da Escócia. Por isso, não é de espantar a sua surpresa quando recebe uma carta de um estudante universitário chamado David Graham, que mora na distante América. O contato do fã dá início a um intercâmbio de cartas onde os dois revelam seus medos, segredos, esperanças e confidências, desencadeando uma amizade que rapidamente se transforma em amor. Porém, a Primeira Guerra Mundial força David a lutar pelo seu país, e Elspeth não pode fazer nada além de torcer pela sobrevivência de seu amor.
Junho, 1940, começo da Segunda Guerra Mundial: Margaret, filha de Elspeth, está apaixonada por um piloto da Força Aérea Britânica. Sua mãe a alerta sobre os perigos de um amor em tempos de guerra, um conselho que Margaret não quer ouvir. No entanto, uma bomba atinge a casa de Elspeth e acerta em cheio a parede secreta onde estavam as cartas de amor de David. Com sua mãe desaparecida, Margaret tem como única pista do paradeiro de Elspeth uma carta que não foi destruída pelas bombas. Agora, a busca por sua mãe fará com que Margaret conheça segredos de família escondidos há décadas.
Comentários:
Distância, romance e guerra. Essas são as palavras que definem Queria Sue, livro de estréia da americana Jessica Brockmole. Com uma trama apresentada apenas por cartas, a história parte do comum e consegue alcançar um modelo de narrativa que te envolve, instigada e que sabe ser surpreendente.
Elspeth Dunn acaba de ter contato com um fã através de uma carta despretensiosa e ousada, como o próprio remetente afirma. David Graham a escreve afim de expressar sua admiração pela autora dos poemas inspiradores que o tiraram de um momento de ócio enquanto enfermo. E, como amante da literatura, Davey (é assim que Elspeth passa a chamá-lo) não poderia estar mais eufórico... recebera uma resposta espirituosa da bela escritora, daquela que mais tarde passa a ser sua valiosa amiga; sua querida Sue.
Toda a trama se passa durante a efervescência da Primeira Guerra, e no início da Segunda. Na primeira temos a frenética troca de cartas de Davey e Sue, onde são descritos outros personagens importante para o enredo, a exemplo do irmão e marido dela, Finlay e Iain, respectivamente; os familiares e amigos deles são enfatizados, também; dentre outros. Na segunda, passamos a conhecer a filha de Elspeth, Margaret, e o noivo da moça, Paul. Desta vez a troca de carta é feita por eles, e também entre outros personagens. É um verdadeiro quebra cabeças... um infinito registro que conta uma das histórias mais serenas que já li, sobre a guerra, com conflito familiares, e sobre a descoberta de um novo amor.
Davey e Sue descobrem um sentimento novo através da escrita, e enfrentam diversos desafios em nome desse amor, que você só sentirá ao experimentar a leitura. Ao mesmo tempo, temos Margaret, anos depois, aflita para saber quem é 'Sue', e porque sua mãe guarda com tanto zelo cartas endereçadas a ela. São esses segredos que a deixa intrigada, e que a fazem querer obter por respostas às suas perguntas em um momento em que ela vê seu noivo partir para a guerra. As história, em um certo ponto, acabam tendo pequenas semelhanças que deixam o leitor ávido, ansioso, à busca do diferencial em meio àquilo que poderia ser mais um clichê. Mas não foi.
O livro parece pequeno, mas é impressionante como finalizamos a leitura com a impressão de que realmente presenciamos cada detalhe da vida desses personagens (me refiro aos principais) ao longo de três décadas. Não achei que uma narrativa construída apenas por cartas fosse dar tão certo, mas Jessica soube ser particular. A escrita é envolvente porque a linguagem das cartas, em um tom descrito, nos permite visualizar o que foi vivido pelo remetente até sua composição. Além disso, são muitas as passagens marcantes, talvez pelo tom muitas vezes poético... enfim, foi um trabalho construído com leveza em um pano de fundo histórico que nos propõe vivenciar mais uma história repleta de desafios marcada pelas grandes guerras.
Não dei nota máxima porque senti falta de algo na história dos personagens principais, já próximo ao desfecho. Por motivos pessoais, eu me identifiquei muito com a trama, e por ser um persistente, não consegui aceitar muito bem certo atos (mas foi uma contrariedade boa)... mesmo que eu tenha entendido essas decisões. É questão de percepção e aceitação de cada um. Porém, essa experiência me fez ver que, às vezes, tudo que está ao nosso redor nos leva a seguir caminhos que nos parecem ser a melhor e mais correta opção, mesmo que esta seja contra a nossa vontade.
Recomendo a obra e asseguro que Querida Sue não é em nada confuso. São cartas em tons diversos, cheios de amor, amizade, cumplicidade e, principalmente, repleta dos dramas da vida. Você certamente ficará com vontade de sair escrevendo para todos aqueles que ama, assim como eu.
Trecho:
''Isso é a guerra falando. Eu sei, já vi acontecer. Eles partem invencíveis, achando que o futuro é um lago dourado à sua frente, prontos para mergulhar. E aí acontece alguma coisa - uma bomba, uma luxação no pulso, uma bala que passa assobiando perto demais - e, de repente, eles se agarram ao que quer que consigam segurar. [...] As emoções são tão fugazes quanto as noites serenas. '' [P. 33]