"Hoje morreu a minha mãe. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo:
'Sua mãe falecida: Enterro amanhã. Sentidos pêsames'.
Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem."

É desta forma que Albert Camus inicia seu romance, o mais clássico e aquele que reflete claramente sua "corrente de ideias": o absurdo.

O Estrangeiro, lançado em 1942, é parte de uma trilogia formada por um romance (L'étranger - O Estrangeiro), um ensaio (Le Mythe de Sisyphe - O Mito de Sísifo) e de uma peça de teatro (Caligula), que descrevem com amplitude a sua filosofia do absurdo.
Juntamente com Jean-Paul Sartre, amigo próximo e filósofo, viveu em uma época conturbada rodeada de fortes acontecimentos históricos. Vendo uma sociedade pouco preocupada com valores ideais humanos, conseguiu desmitificar outros valores impostos, de cunho contrário. Isso foi fundamental ao se criar o romance em questão. Embora negasse a aceitar o rótulo de existencialista, teve claras influências de Sartre.
O enredo narra a história de Mersault, um homem que vive uma vida totalmente comum e que nem precisaria ou devesse ser contada. Está em meio a várias emoções, mas não é capaz de sentir ou demonstrar nada. Tudo "tanto faz". Sua vida se desenrola como se ele fosse um estrangeiro não para um país, e sim, para a humanidade.
Trabalha, tem seus afazeres, se relaciona sexualmente com mulheres, dentre outras coisas comuns. Seu interior mostra alguém conformado com as situações propostas pela vida, possuindo uma espécie de consciência de que não pode mudar os rumos dela e se adapta à essas condições impostas pelo andar do tempo, aproveitando o que de bom lhe surge.
Sua vida tem uma reviravolta quando, por um impensado momento e sem motivo algum, comete um grave crime matando um árabe. A partir daí é preso e passa a esperar seu julgamento. Sente tédio na prisão, fica agoniado e sem a "presença" de cigarros e mulheres. É aí que se tem a descoberta da beleza da vida, quando se encontra privado de tudo...
Na obra, as personagens não são muito exploradas, mas ainda assim podemos sentir fortemente a personalidade de cada. O autor não criou algo grandioso como os escritores de sua época. O livro não é grande, mas o tempo psicológico é tão bem trabalhado que se pode sentir a demora do processo, o aguardo pelo julgamento, o tédio por não ter o que fazer...
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1957 com o livro "A Peste" (resenha aqui), Camus se consagra ainda mais como um dos grandes escritores da literatura contemporânea e que traz sempre uma crítica relacionada com aspectos históricos e sociais.
Podemos estabelecer aqui uma intertextualidade com outro romance já resenhado por mim: A Metamorfose, de Franz Kafka (resenha aqui).
Embora minha opinião já mencionada aqui no blog em sua resenha não tenha sido positiva, consigo ver a semelhança entre as duas obras, onde se questionam as leis, ideologias e instituições que são impostas durante todo o processo de formação de um cidadão. É tudo muito frágil.
A indiferença que predomina em Gregor Samsa, personagem principal de "A Metamorfose", é a mesma encontrada em Mersault que, diante de um júri, é apresentado como um demônio por não ter chorado no enterro de sua mãe, quando na realidade deveria ser julgado pela morte do árabe que matara na praia.
É... Talvez Mersault fosse um homem tão estranho quanto uma barata gigante.
O que posso dizer de resto é que foi uma história em que eu realmente me identifiquei com o contexto geral dela. Adoro a narrativa de Camus e espero em breve poder trazer outras obras não só dele, mas também indicar outros livros pouco lidos ou conhecidos. A nossa função também é essa: divulgar e incetivar além dos que estão na lista de mais vendidos.

Continuem acompanhando, pessoal! Em breve, mais novidades ;)

Ótimo domingo à todos! ;*

Um Comentário

  1. Que demais!
    Não tinha visto esse livro ainda, mais é bem legal :)
    |O nome também é bem interessante|

    Beijos:*
    Natalia.
    http://musicaselivros.blogspot.com/

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