Título: O Silêncio das Montanhas
Autor: Khaled Hosseini
Edição: 1
Editora: Globo Livro
Páginas: 352
ISBN: 9788525054081
Nota: 4 de 5

SINOPSE: O Silêncio das Montanhas traz como protagonista os irmãos Pari e Abdullah, que moram em uma aldeia distante de Cabul, são órfãos de mãe e têm uma forte ligação desde pequenos. Assim como a fábula que abre o livro, as crianças são separadas, marcando o destino de vários personagens. Paralelamente à trama principal, Hosseini narra a história de diversas pessoas que, de alguma forma, se relacionam com os irmãos e sua família, sobre como cuidam uns dos outros e a forma como as escolhas que fazem ressoam através de gerações. Assim como em O Caçador de Pipas, o autor explora as maneiras como os membros sacrificam-se uns pelos outros, e muitas vezes são surpreendidos pelas ações de pessoas próximas nos momentos mais importantes.
Seguindo os personagens, mediante suas escolhas e amores pelo mundo – de Cabul a Paris, de São Francisco à Grécia –, a história se expanda, tornando-se emocionante, complexa e poderosa. É um livro sobre vidas partidas, inocências perdidas e sobre o amor em uma família que tenta se reencontrar.

Comentários:

Alguns anos após seu último lançamento, Kahled Hosseini finalmente nos presenteia com mais uma trama peculiar. O Silêncio das Montanhas, diferente de O Caçador de Pipas e/ou A Cidade do Sol, trás novas apostas por parte do autor, que desta vez oferta uma narrativa desafiadora e complexa que requer bastante a atenção do leitor.

Como revela a sinopse, Pari e Abdullah são os protagonistas da história, que começa a ser narrada pelo pai deles, Saabor. Pobres afegãos e órfãos de mãe (Saboor casa-se posteriormente com Parwana, com quem tem dois filhos. O mais novo, porém, acaba morrendo após duas semanas de nascido devido às condições climáticas da cidade. Só Iqbal consegue sobreviver ao rigoroso inverno, sendo este o meio irmão dos dois noor de Cabul.), os dois irmãos em evidência, ainda muito pequenos no início do livro, apresentam uma união e pureza admirável.

A vida, entretanto, se encarrega de separá-los, cujo destino traça caminhos diferentes para ambos. Enquanto Pari, ainda muito pequena, acaba sendo levada a Paris por Nila Wahdati (onde é habituada e criada, formando posteriormente uma família, mas com pouquíssimas lembranças de sua infância e de seu irmão), Abdullah, a princípio, se refugia no Paquistão, construindo sua vida tempos depois nos Estados Unidos, embora sempre tenha preservado as memórias dos poucos momentos vividos com a irmã mais nova na aldeia em que moravam. Inclusive, Abdullah conservou tanto a vontade de reencontrar Pari, que deu à sua filha anos mais tarde o mesmo nome dela.

A trama se passa ao longo de 60 anos, mostrando um contexto diferente a cada capítulo. Eles são apresentados sob a perspectiva de personagens diversos que, embora estejam relacionados com as duas personalidades principais, não são identificados sobre quem se tratam a princípio. Vale ressaltar ainda que o que está ocorrendo nas narrativas seguintes, de antemão, parece bastante confuso, porque a impressão é que trata-se de uma trama distinta, e isso não contribui muito para o nosso entendimento sobre as vidas de Pari e Abdullah, que acabam ficando no segundo plano da história, infelizmente  mesmo que esta não seja a intenção.

Em O Silêncio das Montanhas não existe uma linha do tempo concreta, pois a narrativa vai do passado ao presente (e vice versa) sem receio de aversões. Além disso, diferentes culturas são trabalhadas: Cabul, Grécia, Paris e Estados Unidos, todos bem divergentes, mas igualmente incluídos e muito bem apresentados. É importante frisar, porém, que este é um livro que quando lido sem atenção, passa despercebido, como se fosse uma reunião de contos novelísticos quaisquer e sem a menor aderência. É denso e intrincado de personagens onde o leitor presenciará seus respectivos desenvolvimentos graças à leva de fatos criados pelo autor.

Embora a ideia genial de ofertar um conjunto de estórias distintas e interligadas ao mesmo tempo (cuja função é ajudar a moldar e a explicar o que aconteceu com os dois noor da história), o artifício se apresentou por vezes confuso e cansativo. Por isso, quem estava ou está esperando por uma narrativa ao estilo de O Caçador de Pipas ou de A Cidade do Sol (que possuem estruturas semelhantes), saiba desde já que neste volume Hosseini instiga a capacidade de reflexão do leitor, desafiando sua mente para uma história nada mastigada, e carregada do início ao fim.

E mais uma vez o autor consegue me emocionar. Hosseini é sutil ao tratar de vidas separadas e reencontros. Apesar das idas e vindas e de alguns detalhes desnecessários, a história consegue ser tocante, aflorando sentimentos e pensamentos sobre a vida e a nossa existência, sobre nossos atos e escolhas, e nos dando uma autêntica e maravilhosa lição de vida.

Para finalizar, eu gostaria de comentar neste momento da resenha algo que o próprio Hosseini diz na sinopse do livro. "O novo título fala não somente sobre a minha própria experiência como alguém que viveu no exílio, mas, também sobre a experiência de pessoas que eu conheci, em especial os refugiados que voltaram ao Afeganistão... ". E que bela forma de ofertar experiências, hein!? Ainda mais quando estamos falando de um escritor que trabalha com a alma, se baseando na vida, e nos mostrando a verdadeira face que ela possui. Eu o admiro muito por isso.

Recomendo o livro para aqueles que procuram um drama característico ligado ao real. Todavia, aconselho a realizarem essa leitura somente quando estiverem preparados e com a mente fresca. Ela requer atenção e precisa ser realizada no momento certo devido a complexidade narrativa empregada pelo escritor, coisa que talvez não agrade fácil. E aos fãs das demais obras de Hosseini, garanto que este é bem diferente em termos estruturais. Mas é igualmente especial aos anteriores.


Levei o telefone para o quintal de trás e sentei numa cadeira, perto da horta onde eu cuidava dos pimentões e das abóboras gigantes que minha mãe havia plantado. O sol aquecia minha nuca, e acendi um cigarro com as mãos tremulas
Eu sei quem você é, falei. Sempre soube em toda a minha vida.
Fez-se silêncio no outro lado da linha, mas tive a impressão de que ela estava chorando, em silêncio, que tinha distanciado a cabeça do telefone para chorar.

Pág. 329




5 Comentários

  1. Ótima resenha Fran! Mesmo com as diferenças na estrutura dos livros anteriores estou muito ansiosa/curiosa para ler esse livro.

    http://numrelicario.blogspot.com.br/

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  2. Adoro suas resenhas, Fran, pois passam bem a ideia do que o livro traz. Parece ótimo mesmo, mas acho que não estou no momento para essa leitura.

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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  3. O que posso dizer sobre Hosseini? Li apenas O Caçador de Pipas, que me emocionou muito e é o tipo de história que gosto de ler para me relacionar melhor com o mundo. Tão bem escrito e tocante!
    Sempre quis continuar a ler as obras do autor. Quem sabe este não seja o próximo?
    Ótima resenha!

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  4. Oi Fran,
    Li há alguns anos O Caçador de Pipas e lembro de ter gostado.
    Porém, o fato de vc ter destacado que o livro poderia ser considerado uma coletânea de contos interligados me deixou meio com o pé atrás.
    Tbm não gosto quando a trama fica mto complicada e vc corre o risco de se perder.
    Abraço,
    Alê
    alemdacontracapa.blogspot.com

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  5. Comprei esse livro na Bienal, mas ainda não tive tempo de ler.
    Adorei a resenha, confesso que fiquei mais curiosa ainda.

    Parabéns pelo blog.
    Já estou te seguindo por aqui.
    Beijos!
    http://annacaarol.blogspot.com.br/

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