Ao período de transição do qual a literatura brasileira atravessou no início do século XX, marcado pelo sincretismo de tendências artísticas, chamamos de Pré-Modernismo. E é sobre ele que iremos falar hoje.

Pintura pré-modernista de Tarsila do Amaral. Fonte: Google.

Sem constituir um movimento literário propriamente dito, o Pré-Modernismo foi responsável por preparar a grande renovação modernista, cujo marco no Brasil foi a Semana da Arte Moderna, em 1922. Embora os autores daquela época ainda estivesse presos às expressões literárias do século anterior, algumas inovações quanto aos temas e à linguagem podem ser observadas, tais como:
  1. o interesse pela realidade brasileira: o dia a dia do brasileiro era um dos principais assuntos abordados, o que originou uma série de obras de cunho social. Dentre eles é possível destacar Canaã, de Graça Aranha, e Os Sertões, de Euclides da Cunha. Autores como Lima Barreto e Monteiro Lobato também deram fortes contribuições nesse sentido.
  2. a busca pela linguagem simples: representou um enorme passo para a renovação modernista de 1922. Lima Barreto, por exemplo, passou a escrever com mais simplicidade, ignorando assim as normas gramaticais e de estilo, o que provocou certa ira nos meios acadêmicos daquela época.
Saiba mais sobre duas importantes obras da fase pré-modernista no país. 
Os Sertões (1902)
A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, não só conta o que se passava no sertão nordestino, como tenta explicar esse fenômeno cientificamente. Para tanto, ele possui três partes: "A Terra", que descreve o sertão geograficamente; "O Homem", que trata dos costumes do sertanejo; e "A Luta", que relata os ataques a Canudos. Isso faz o livro ser de fundo histórico e rigor científico. 
Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915)
Triste Fim de Policarpo Quaresma, escrito por Lima Barreto, fora contextualizado no fim de século XX, no Rio de Janeiro, e narra os ideais e frustrações do nacionalista fanático Policarpo Quaresma. Além de fazer uma descrição política no país no início da República, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século.

Na poesia foi o escritor Augusto dos Anjos quem se destacou, cuja única obra, Eu (1012), choca pela agressividade do vocabulário e pela visão dramática e angustiante. Seus poemas são compostos por uma linguagem considerada na época como antipoética, e seus temas principais são a prostituição, substâncias químicas, decrepitude de cadáveres, vermes, sêmen, dentre outras coisas inquietantes. 

Com sua poesia antilírica, Augusto dos Anjos deu início à discussão sobre o conceito de "boa poesia", preparando o terreno para a grande renovação modernista da segunda metade do século XX, do qual iremos falar no próximo post. Até lá!

Abraços,

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Referência: CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza. Conecte: literatura brasileira. São Paulo: Saraiva, 2011.

3 Comentários

  1. Eba mais uma postagem dessa coluna que estou adotando acaompanhar \o/

    Na época da faculdade fiz um trabalho sobre Os sertões e meu irmão me deu o livro, mas confesso que nunca o li todo. Apesar de interessante não consegui gostar da linguagem, mas quem sabe um dia o leia!!??? Já Triste fim de Policarpo Quaresma li e gostei, apesar do fanatismo dele incomodar um pouco mas a ideia dele é interessante e boa.
    Augusto dos Anjos sempre me deixou angustiada e com o estômago embrulhado, mas entendo e reconheço seu valor na literatura.

    Enfim amiga parabéns pela pesquisa, estou adorando revisar esses assuntos, literatura é um assunto que me agrada demais!!! Beijos

    Leituras, vida e paixões!!!

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  2. É engraçado que falamos mais sobre Pré-Modernismo no quesito das artes plásticas que na literatura, Fran. Mas existem características notáveis sim, você apontou-as muito bem. E Os Sertões é uma obra que pretendo conferir. Enfim, ótimo post.

    Beijos!

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  3. Já li o Policarpo, gente aquele homem era uma graça, no filme ele é mais engraçado ainda.

    Amava as criticas dos autores aos costumes da época.

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