Nesse dia das crianças, ao invés de fazer o de sempre (recomendar livros infantis ou falar sobre autores que se dedicaram ao gênero), optei por algo diferente: irei contar um pouco da minha infância, quando minha história como leitora começou, e porquê eu quis levar esse hobby tão a sério.

Não comentei no texto, mas acho válido ressaltar aqui a importância que os quadrinhos da turma da Mônica têm para a minha formação de leitora. Definitivamente, eles foram uma influência muito positiva para mim.

Desde muito pequena eu sempre fui incentivada a me dedicar aos estudos. Aliás, minha mãe sempre fez de tudo para que meu irmão e eu tivéssemos uma educação base minimamente estável e de qualidade. Apesar disso, eu percebia que a leitura não fazia parte dos hábitos dos meus pais, ou até mesmo do meu irmão. 

Para mim isso soava um tanto confuso, pois estudar e ler possuem uma ligação direta. É claro que com o tempo fui notando as diferenças entre ambos, mas, até então, dedicar um tempo para estudar era o mesmo que dedicar parte do meu dia para a leitura. E eu me sentia uma leitora por isso. Porque estudava até quando não havia necessidade.

É, eu gostava mesmo de estudar. Gosto! E sempre li por conta disso. Mas me restringia demais às leituras que guiavam meus estudos, ou ao que chamavam na época de paradidáticos para as aulas de português e redação (também conhecidos como romances). Ou seja, não havia muito espaço para a minha imaginação ser aguçada, porque eu não tinha a iniciativa ou o incentivo para buscar outras leituras fora do que era proposto pelo ambiente escolar.

Até sentir curiosidade pelos livrinhos de banca que meus avós tinham guardados num baú super velho e empoeirado. Pois é, o baú até poderia estar sujo, mas os livros não. Eles era constantemente utilizados pelos meus avós; eram o tesouro deles.

Acho importante destacar que essa fase relatada se trata dos meus sete aos doze anos.

Não tenho vergonha de dizer aqui que meu avô nunca frequentou uma escola. Tudo que ele aprendeu foi ensinado pela minha avó, que parou os estudos ainda muito nova por conta do casamento e de uma série de partos que ocorriam um atrás do outro. Enquanto isso meu avô tinha que trabalhar para sustentar a família. 

Ainda assim, ele foi a pessoa mais inteligente que eu conheci. Criado na roça, sem grandes oportunidades, tinha tudo para ser um matuto, mas não. Era inteligente, falava muito bem (sem contar nas palavras cultas proferidas sempre tão corretamente), e escrevia melhor que muita gente. Gostava de história, de ler jornais e livrinhos de banca, e era o trovador apaixonado que criava belas poesias e me inspirava como ninguém. Meu avô e minha avó foram a faísca que eu precisava.

Graças a eles, e ao tesouro que eles guardavam naquele baú velho (livros antigos com inúmeras anotações nas margens), entendi que a leitura é muito mais do que eu imaginava... ela é mágica, rica em ensinamentos, e nos abre um leque de oportunidades. Parece clichê, mas hoje eu entendo que é a mais pura verdade.

Depois de descobrir esse universo, coloquei na cabeça que eu poderia criar minhas própria histórias. Mas quem poderia me servir de inspiração para isso? Meus avós, é claro. Eu queria escrever sobre eles, porque a história de vida deles era a minha maior referência. Assim surgiu minha paixão por blocos de nota e canetas. Isso quando eu não pegava aquela embalagem de desodorante vazia para fazer de microfone. Eram tantas as entrevistas, que meus avós ficavam até cansados.

Mas foi esse cansaço, esse incentivo, esse exemplo, que me despertou para a leitura, e, consequentemente, para o jornalismo, do qual hoje sou graduada. Devo muito a eles pelas tardes de leitura, pelas arguições em épocas de prova, pelas brincadeiras onde eu era a repórter e, eles, os entrevistados. Devo muito a eles por me mostrarem que a falta de oportunidades não são motivos para desistir. A nossa vontade e os nossos sonhos devem prevalecer.

Também devo muito à minha mãe, que sempre fez o possível e até o impossível para que eu seguir alcançando meus objetivos. Ela nunca foi uma leitora assídua, mas sua paixão pelos jornais de TV, sua vontade de saber o que estava acontecendo no mundo, seu incentivo para eu me manter informada através dos periódicos impressos nas bancas de jornais... tudo isso me despertou para um caminho que estou trilhando com  muito orgulho.

Hoje, parte do que sou, também atribuo à leitura, que me permitiu aprender sobre diversas situações da vida, e que tanto me edifica e que me faz ser alguém mais paciente e tolerante. Por isso, fica aqui o meu apelo pelo incentivo à leitura. Sei que muitas pessoas se tornam leitores por interesse próprio, mas quando nossos mentores nos dão exemplo, quando temos em quem nos inspirar, a gratificação é inesgotável e simbólica; é muito maravilhoso!

Guie suas crianças pelo caminho da educação, da leitura, da curiosidade... e eles estarão sendo bem preparados para a vida. E mais: falando por mim, o maior presente que ganhei em pequena foi ter essas pessoas ao meu lado; é ter em minha mente essas boas lembranças. Melhor que alguns presentes (também muito legais) que, infelizmente, o tempo se encarregou de apagar da minha mente.

Fica aqui a mensagem para esse dia das crianças.
Abraços!


Um Comentário

  1. Que texto lindo, Fran! Nossa, emocionante ver o papel que seus avós tiveram na sua formação como leitora. Mas principalmente o carinho e admiração que tens por eles. Dá pra ver que são pessoas muito especiais, devem ter muito orgulho de você. E concordo contigo, a inserção no mundo da leitura quando ainda somos crianças é realmente primordial. Ah, a ilustração da Turma da Mônica ficou perfeita. Excelente post.

    Beijos!

    ResponderExcluir

Boas sugestões e opiniões construtivas são sempre bem-vindas. Obrigada por sua visita!