Título: Livro do Desassossego
Autor:
Fernando Pessoa (Bernardo Soares)
Edição:

Editora:
Companhia de Bolso
Páginas:
559
ISBN: 978-85-359-0
849-7

E aí, pessoal? ;)

Acabei de terminar minha leitura, ainda que por vezes bastante sortida, sem uma ordem propriamente dita, deste maravilhoso clássico do ma
ior poeta português: Fernando Pessoa.
Amo trechos reflexivos e que por ventura, de início, pareçam indecifráveis. Digo de modo geral que o livro se enquadra verdadeiramente em uma obra de teor altamente poético e prosaico simultanemante, com uma leveza em detalhes, sutileza nas descrições, opiniões cotidianas com conteúdo... Deve se notar toda a beleza singular nas palavras deste heterônimo (ou semiheterônimo, como verão na resenha). Enfim, acho que a resenha descrevrá bem todo o contexto da obra e com alguns trechinhos para que os bookaholics possam apreciar.



"O meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro do Desassossego. Mas tudo fra
gmentos, fragmentos, fragmentos."

Explicando acerca do livro e de si mesmo, este trecho revela parte integrante da carta de Fernando Pessoa ao amigo Armando Cortes-Rodrigues. É assim que ele define em partes o Livro do Desassossego, a obra em prosa de um de seus grandes heterônimos: Bernardo Soares.
Há que se explicar que, segundo a própria concepção do autor, Soares "É um semiheterónimo. [...] porque, não sendo a personalidade a minha, é, não difere
nte da minha, mas uma simples mutilação dela." (Prólogo)
Soares não possuía personalidade ou humor marcante, ao contrário de Pessoa. Na verdade, era o seu autor com alguns elementos em falta.

O
Livro do Desassossego retrata a condição da alma humana e realiza deste modo, uma identificação do leitor com as confissões e sensações expostas em cada fragmento solto. Em toda a prosa poética se sobressaem novos rumos de pensamento, novas reflexões e uma sensibilidade que vai se aflorando a cada trecho, a cada efeito. Sintetiza angústias, sonhos (e estes são melhores num plano imaginário do que realizados), incertezas, moral, conhecimento... São fatos sem uma ordem e tempo propriamente definidos. Não há repouso. "Dono do mundo em mim, como de terras que não posso trazer comigo" - diz o narrador. - "Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer."

Por que utilitzar neste livro um título como este? Antes de possuir este nome, Pessoa havia bolado uma lista com 14 supostos títulos como "Intervalo Doloroso" e "Paisagem de Chuva", que acabaram por servir repetidas vezes para textos independentes e que compartilhavam desta mesma temática.
"A palavra desassossego refere-se não tanto a uma perturbação existencial no homem como à inquietação e incerteza inerentes em tudo e agora destiladas no narrador retórico. Mas a força dum outro desassossego - mais íntimo e profundo - impõe-se pouco a pouco, e o livro assume dimensões inesperadas." (Prólogo)

Constitui-se nesta obra uma espécie de biografia aproximada do próprio Fernando Pessoa. É um caderno que contém todo o essencial da sua "diversidade heteronímica":

"Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações. Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as que fazem meia porque há vida. Minha tia velha fazia paciências durante o infinito do serão. Estas confissões de sentir são paciências minhas. Não as interpreto, como quem usasse cartas para saber o destino. Não as ausculto, porque nas paciências as cartas não têm propriamente valia." (Trecho 12)

 
Uma obra existencialista e sendo um tipo de "manual do sonhador" - "Um manual de filosofia menos os conceitos e as definições, uma bíblia menos Deus e os seus seguidores" - não é de leitura ordenada e seguindo numerações. Os conselhos, filosofias, p
ensamentos necessitam ser degustados com uma leitura mais a fundo, sem nenhuma pressa. Este livro é daqueles que se deve ficar eternamente em sua cabeceira. A partir do momento em que se inicia sua leitura, descobre-se que não há início e não há um fim, propondo então que o leitor se entregue a magia dessa eterna brevidade contínua. É para sempre.

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é esse o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um rom
ance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." (Trecho 116)


(Nota: Excelente!)

3 Comentários

  1. Bem complexo essa resenha, que afinal eu adorei. Fiquei meio confusa no começo, mais depois consegui entender toda a resenha!
    Muitoo legal :))
    Beijos;*
    natalia.

    http://musicaselivros.blogspot.com/

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  2. Nunca li nada do Fernando Pessoa, mas depois de ler sua resenha, me bateu uma vontade me me jogar nos livros dele.
    Pena que agora Machado de Assis está roubando todo o meu tempo.
    Ótima resenha, Isabella! Parabéns! :)


    Beijinhos, :*
    www.primeiro-livro.com

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  3. Com todo o respeito, pra mim, iseo que escreveu é resenha! Sem abordar conceito técnico, mas pessoal, quando eu busco uma resenha, como foi o caso, quero opiniões de quem já leu, assistiu ou vivenciou, que possa me indicar o porquê de ler ou não, instigando ou não. Não se trata de necessariamente emitir uma opinião pontual, mas de oferecer ao leitor da resenha subsídios para que ele possa se decidir.

    Andei por vários sites procurando um motivo que me motivasse a ler o referido título. Confesso: só encontrei aqui!

    Parabéns e obrigado!

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