Olá, pessoal!

Hoje venho com o intuito de trazer uma resenha diferente e de um autor mais que conhecido e clássico: Fernando Pessoa. Ao ler dois livros de bolso de sua autoria, resolvi fazer uma resenha de um deles e foi aí que pensei: por que não resenhar sobre poemas? Ao mesmo tempo que é pouco ou nada comum ver por aí poemas sendo aclamados ou mesmo discutidos, trouxe a proposta de reflexão acerca de trechos minuciosos e que, de alguma forma, podem despertar uma nova paixão literária em você, leitor e fazer com que o mundo de Pessoa e seus heterônimos seja ainda mais uma nova descoberta ou aprofundamento para o seu conhecimento ;)

O livro em questão é de um dos heterônimos de Pessoa, Ricardo Reis. (Ao contrário dos pseudônimos - vários nomes para uma mesma personalidade - os heterônimos constituem várias pessoas que habitam um único poeta. Cada um deles tem a sua própria biografia, sua temática poética singular e seu estilo específico.). Aí vai um trechinho da sua biografia:

Ricardo Reis nasceu em 1887 no Porto e estudou em um colégio de jesuítas. Foi médico e fixou residência no Brasil desde 1919. Reis é o heterônimo neoclássico, da métrica perfeita, da temática pagã e da consciência da passagem rápida do tempo. Entre seus temas recorrentes podemos citar o do sofrimento diante dos mistérios da vida e da morte e as relações com as suas musas, Lídia, Neera e Cloe. Segundo a avaliação de Pessoa, “Reis escreve melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado”.

Vamos à sinopse:


Este volume apresenta ao leitor todas as odes atribuídas a Reis. Também estão incluídos no livro versos e poemas anotados com pequenas alterações feitas pelo poeta, chamados de variantes, inseridos como notas de rodapé. De acordo com a biografia criada pelo próprio Pessoa, Ricardo Reis nasceu em 1887 no Porto e estudou em um colégio de jesuítas. Foi médico e fixou residência no Brasil desde 1919. Reis é o heterônimo neoclássico, da métrica perfeita, da temática pagã e da consciência da passagem rápida do tempo. Entre seus temas recorrentes podemos citar o do sofrimento diante dos mistérios da vida e da morte e as relações com as suas musas, Lídia, Neera e Cloe. Segundo a avaliação de Pessoa, “Reis escreve melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado”. 

Antes de tudo, é importante se esclarecer no que se constitui uma ode. É um modelo clássico de composição poética oriundo da Grécia Antiga. Tipo de texto cantado e acompanhado pela lira (instrumento musical). Possuidor de estrofes semelhantes pela métrica estabelecida, geralmente se compõe de quatro versos em cada estrofe, porém, não é regra geral.

"Poema lírico de forma complexa e variável, a ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto. As literaturas ocidentais modernas aproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por três unidades estróficas, correspondentes, no desenvolvimento da idéia do poema, à estrofe, à antístrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (conclusão do poema). A ode comportava uma série de esquemas métricos e rítmicos, de acordo com os quais era classificada."


Obra e Estilo

As primeiras obras de Ricardo Reis foram publicadas na revista Athena (fundada por Pessoa) em 1924. Algum tempo depois foram publicadas mais oito odes na revista Presença. O restante dos poemas e prosas são de publicação póstuma.
Como Fernando Pessoa mesmo disse, Reis é o heterônimo neoclássico, da métrica perfeita, da temática pagã e da consciência da passagem rápida do tempo. Dessa forma, se acomete de algumas características em comum com Alberto Caeiro, outro heterônimo de Pessoa (bio aqui).
Com grande uso de hipérbato (figura de linguagem que consiste em trocar a ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo, complementos, adjuntos) ou de nomes e seus determinantes.), Reis também se mune de vocabulário extremamente erudito, preciso e com manifestação imperativa demonstrando atitude filosófica.
Podemos encontrar lemas árcades inclusos em sua obra, a exemplo do Carpe Diem (Aproveite o Dia, aproveite com intensidade o presente) e Aurea Mediocritas (Mediocridade Áurea, ou seja, valorizar as coisas cotidianas). Além disso, Reis procura aceitar calmamente o destino e opta por não viver grandes emoções, sendo uma espécie de disciplina. Faz renúncia da vida através da recusa do amor e da consciência da inutilidade do esforço de mudança, já que o destino “é força superior ao homem”.  Recusa o amor para evitar desilusões de maneira que nada modifique a serenidade e razão já estabelecidas, uma vez que tudo na vida tem um fim. 

Trechos que gostei e reservei para compartilhar com vocês:

Pequeno é o espaço que de nós separa
O que havemos de ser quando morrermos.
Não conhecemos quem será o morto
        De hoje que então acaba.
Só o passado, comum a nós e a ele,
Será indício de que a nossa alma
Persiste e como antiga ama, conta
        Histórias esquecidas…
Se pudéssemos pôr o pensamento
Com esta visão adentro de ideia
Que havemos de ter naquela hora,
        Estranhos olharíamos
O que somos, cuidando ver um outro
E o espaço temporal que hoje habitamos
Luz onde nossa alma nasceu
        Alheia antes de a termos.
 p.94

(31/1/1922)

Pequenos fragmentos da contra-capa:

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


A realidade
Sempre é maios ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós própios.

[...]

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.


Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


E como último legado do mestre, deixo breve texto dito por ele:

"Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: ‘Navegar é preciso, viver não é preciso’.
Quero pra mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa raça."

Bem, pessoal... Por hoje é só! Espero que tenham gostado ;)
Ótimo domingo a todos!

3 Comentários

  1. Proposta excelente a sua, Isabella! Eu também pensei em trazer certa poesia ao LLM, mas confesso que tive receio da reação do público. Admiro você por ter a coragem necessária para fazer um post dessa natureza.

    Confesso que o Fernando Pessoa não é exatamente o meu poeta favorito - diga-se de passagem, tenho grande admiração pelo Augusto dos Anjos e pela Florbela Espanca - mas admiro, como todo mundo, o seu trabalho impecável com os heterônimos. Justamente por sua feição clássica, o Ricardo Reis é o meu favorito deles, e os trechos que você selecionou são particularmente bonitos. Apesar de vivermos em uma época onde poesia não precisa, necessariamente, rimar, e na qual tampouco há necessidade de métrica, eu admiro MUITO os poetas que retrocedem ao padrão clássico, fazendo um verdadeiro trabalho com seus vocábulos. Há quem discorde de mim, mas eu realmente acredito que a verdadeira poesia consiste em adaptar os seus pensamentos a um molde métrico (um soneto, por exemplo) e, ainda assim, conseguir transmitir suas emoções e inquietudes. Nunca condenarei quem faz "quase métrica" (tipo o João Cabral de Melo Neto) ou quem despreza totalmente os decassílabos e seus afins, mas sempre terei uma afeição particular pela contagem de sílabas poéticas...

    Já falei muito, rs.
    Grande beijo, Isa!

    Robledo - http://livrosletrasemetas.blogspot.com/

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  2. O unico comentario que posso fazer a respeito: Fernando Pessoa é tudo de bom, não é não? :a

    Beijos
    Dani
    http://chabiscoitoseumlivro.blogspot.com

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  3. qual e a tematica desse poema?

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Boas sugestões e opiniões construtivas são sempre bem-vindas. Obrigada por sua visita!