Título: Dançando Sobre Cacos de Vidro (Cortesia cedida pela Editora Arqueiro)
Autor: Ka Hancock
Edição: 1
Editora: Arqueiro
Páginas: 336
ISBN: 9788580412079
Nota: 5 de 5

SINOPSE: Lucy Houston e Mickey Chandler não deveriam se apaixonar. Os dois sofrem de doenças genéticas: Lucy tem um histórico familiar de câncer de mama muito agressivo e Mickey, um grave transtorno bipolar. 
Contrariando toda a lógica que indicava que sua história não teria futuro, eles se casam e firmam – por escrito – um compromisso para fazer o relacionamento dar certo. Mickey promete tomar os remédios. Lucy promete não culpá-lo pelas coisas que ele não pode controlar. Mickey será sempre honesto. Lucy será paciente. Como em qualquer relação, eles têm dias bons e dias ruins – alguns terríveis. Depois que Lucy quase perde uma batalha contra o câncer, eles criam mais uma regra: nunca terão filhos, para não passar adiante sua herança genética. Porém, em seu 11° aniversário de casamento, durante uma consulta de rotina, Lucy é surpreendida com uma notícia extraordinária, quase um milagre, que vai mudar tudo o que ela e Mickey haviam planejado. E de uma hora para outra todas as regras são jogadas pela janela e eles terão que redescobrir o verdadeiro significado do amor.

Comentários:

Em seu livro de estreia, a enfermeira Ka Hancock mostrou ter escrito com a alma, cuja dedicação refletiu em um trabalho incrível e bastante especial. Dançando Sobre Cacos de Vidro é uma história tão bonita e triste ao mesmo tempo, que chega a ser cruel.

Lucy Houston e Mickey Chandler enfrentaram muitas barreiras para ficarem juntos. Ela sofre de problemas cancerígenos, e ele de transtorno bipolar. Mas apesar dos empecilhos impostos pelas respectivas doenças, e da pouca fé neles por parte de alguns, Lucy sempre acreditou no amor que sentia por Mickey, e se fortificou neste sentimento; mas, principalmente, sempre acreditou em seu potencial, até mais do que ele mesmo acreditava. E Mickey a amou tanto, que não conseguiamais  imaginar sua vida sem ela. Lucy é uma mulher destemida, sabe o que quer e possui uma personalidade forte. Mickey buscou dentro de si essa autoconfiança, e lutou contra tudo que viesse pela frente em nome desse amor.

No geral, a narrativa é comandada por Lucy, mas é o Mickey quem dá início às capitulações através de um desabafo para si mesmo, como se fosse um diário, ato que se tornou uma excelente estratégia terapêutica receitada por seu psiquiatra. Todavia, a impressão (talvez proposital) é que ele se dirige diretamente ao leitor, como se nós fôssemos seu psicólogo ou alguém bastante confiável. Essa mescla se tornou tão particular que, para mim, funcionou melhor que o esperado. São as versões de cada um, em perspectivas diferentes, mas igualmente apaixonantes.

O livro, além de bem escrito, tem uma linguagem fácil e envolvente. Apesar do foco da trama estar no presente e nos fatos que se seguem, somos levados em vários momentos da história ao passado. Nele descobrimos como Lucy e Mickey se conheceram; como se desenrolou o relacionamento deles até firmarem um namoro; as dificuldades impostas pelas respectivas doenças – e com elas o preconceito –; a relação deles com os demais personagens; como Lucy perdeu os pais; como a doença de Mickey foi despertada; os apuros enfrentados no início do casamento; as primeiras internações; o histórico de ambos em relação aos problemas de saúde; e muito mais.

Ainda tento digerir todos os acontecimentos, pensando como Ka Hancock conseguiu desenvolver um enredo tão rico em apenas 336 páginas. E o mais incrível é que a história, em momento algum, se tornou cansativa. É tão instigante que a leitura se torna até mais rápida do que se prevê.

O final não é exatamente imprevisível. Talvez até um pouco clichê. Porém, não consegui ver isso como um ponto negativo, ou como uma queda na qualidade da história. A autora soube conduzir tudo tão bem, de forma tão delicada e tão chocante, que o esperado se tornou inesperado. É triste e cruel, mas incrivelmente belo devido as lições de vida extraídas de atos tão viscerais. Os personagens também contribuem para uma leitura efetiva, pois todos, além de verossímeis, possuem personalidades marcantes... será difícil esquecê-los.

Estamos tratando de um sick lit maduro, intenso, reflexivo, carregado de passagens marcantes, e emocionante até as últimas palavras. É doce, triste e real. Aprendi com Dançando Sobre Cacos de Vidro que devemos correr atrás daquilo que realmente acreditamos, mesmo que as barreiras da vida nos imponham dificuldades que parecem ser insuperáveis. Aprendi também que devemos seguir nossos ideais, e que a fé, seja em alguém ou em alguma expressão religiosa, não deve ser contestada; que devemos lutar por aqueles que amamos; e que tudo na vida, tudo que nos acontece, por mais absurdo que seja, tem um propósito.

Talvez, por não ler tantos sick-lit's, eu tenha me envolvido demais. Talvez, inclusive, vocês tenham lido livros do gênero que tenham um diferencial ainda mais incrível. Mas eu garanto que a trama pautada vale muito a pena ser lida, pois, além de ser um excelente trabalho baseado na experiência profissional da autora, é inspirador, profundo e dramático na dosagem certa, sem exagero. Portanto, se você se interessa pelo gênero, não pode deixar essa leitura passar batida.


''Hoje meu amigo Nathan Nash vai enterrar a esposa. Não sei como ele não desmoronou. Conheço o inferno, mas a ideia de perder minha mulher foi um tormento sem precedentes. Descobri que a realidade é muito mais cruel que a loucura. A loucura poder ser medicada, reduzida, sedada. Assistir a Lucy dissolver, ser devastada de dentro para fora, era um muro que eu não conseguia atravessar. Não havia nada que eu pudesse fazer além de abraçá-la, respirar com ela. Apenas respirar, enquanto seu lindo cabelo caía em minhas mãos. Apenas respirar, segurando-a em meus braços e a ouvindo gemer, com o veneno destinado a salvá-la correndo em seu corpo. Tudo que pude fazer foi assistir e respirar até o câncer desistir e deixá-la. Mas ele enfim a largou: uma prece foi ouvida, um milagre, operado. Lucy melhorou. E então piorei.''

Pág. 57



12 Comentários

  1. Oi Fran! :)
    Jurava que não sabia tudo isso sobre o livro. Agora você conseguiu convencer a passá-lo na frente de todos para ler.
    Essa dose emocional sempre cai bem, SEMPRE! É um choque para aquelas leituras bobas que a gente costuma fazer.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

    ResponderExcluir
  2. Fran adorei sua resenha, li esse livro mês passado e senti o que vc sentiu. Não são todos os autores que abordam doenças em seus textos sem deixar o leitor pra baixo, achei que essa autora conseguiu nos passar a coisa real mas com personagens guerreiros e que não abrem mão da felicidade. Gostei das mensagens e da forma como a história foi contada.
    Parabéns pela leitura e resenha!!!! Beijao!!!

    Leituras, vida e paixões!!!

    ResponderExcluir
  3. Quero muito ler esse livro, Fran! Ainda mais depois dessa bela resenha que me fez estremecer. Imagina o livro em si? :'/

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Adorei essa resenha, o livro parece ser ótimo, ainda não tinha ouvido falar dele não
    Beijinhos
    Instagram
    Facebook do blog
    PARTICIPE DO SORTEIO NO BLOG E CONCORRA A GANHAR UM LINDO VESTIDO
    conversando-com-a-lua.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. OI adorei a resenha e amei a dica!!! vou anotar!!!
    Bjs, me segue se ja segue ignora e comenta por favor ajudaria muito.
    http://resenhasteen.blogspot.com.br/2013/11/o-guardiao.html

    ResponderExcluir
  6. Não tinha conhecimento sobre esse livro mas fiquei curioso por ele. Ando em busca de alguma leitura diferente e arrebatadora ao mesmo tempo. Quem sabe pode ser esse? :)

    ResponderExcluir
  7. Não conhecia esse livro. Também nunca li sick-lit's, e até tenho um aqui, o famoso "A Culpa é das Estrelas" (que não tenho interesse de ler no momento), mas este, Dançando sobre Cacos de Vidro, me deixo realmente MUITO interessado!!! Pretendo ler:))

    Ótima resenha *.*

    David - Leitor Compulsivo

    ResponderExcluir
  8. Desde o momento em que esse livro foi lançado senti que deveria lê-lo, apenas lendo o seu título. Agora depois de sua resenha sei que TENHO QUE LER! Sua sinopse é fantástica e emocionante, espero logo (muito logo) poder ler. Parabéns pela resenha.

    Natalia/Entre Livros e Livros
    http://musicaselivros.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Desde o encontro sobre Sick-Lit no clube do livro fiquei interessado por esse livro. Adoro esse gênero e as divagações que nos proporciona. Parece ser uma história dança e ao mesmo tempo instigante e agradável. Estou doido para decodificar o significado dessa capa (risos). Obrigado pela dica!

    PS - Li recentemente um livro que acho que te agradará, chama-se "O ano da Leitura mágica". Não sei porque mais a autora e você escrevem de forma parecidas. Abraços!

    De Frente com os Livros

    ResponderExcluir
  10. A capa do livro me chamou muito a atenção... já tenho ele no kobo, mas sou dessas que também quer ele físico... Vou ler ele em breve! :D

    ResponderExcluir
  11. Nossa esse livro parece ser ótimo, super emocionante, fiquei doida pra ler!

    ResponderExcluir
  12. A estória é realmente forte e triste. Não imaginava que tivesse tudo isso de drama. A autora foi incrível em criar personagens tão difíceis e diferentes. Não é nada fácil colocar no papel personagens com tanta carga emocional e tantos problemas. Adorei conhecer a estória deles e vou tentar ler. Beijos.

    ResponderExcluir

Boas sugestões e opiniões construtivas são sempre bem-vindas. Obrigada por sua visita!