Título: O Árabe do Futuro 2*
Autor: Riad Sattouf
Edição: 1
Editora: Intrínseca
Páginas: 160
ISBN: 9788580578805
Nota: 4 de 5

SINOPSE: No primeiro volume da trilogia O Árabe do Futuro, o pequeno Riad, filho de pai sírio e mãe bretã, passou os primeiros anos de sua vida dividido entre a Líbia, a Bretanha e a Síria. Nesta sequência, ele narra os choques de seu primeiro ano como aluno de uma escola síria, onde enfim aprende a ler e escrever em árabe enquanto enfrenta um ambiente rígido e violento. Ele também conhece mais a fundo a família paterna e, apesar dos cabelos louros e das semanas de férias na França com a mãe, faz todo o possível para se tornar um verdadeiro sírio e encher o pai de orgulho.
A vida no campo, a escola no pequeno vilarejo de Ter Maaleh, as incursões ao mercado negro na cidade grande, os jantares luxuosos com o parente que era general e as caminhadas nas ruínas áridas da antiga cidade de Palmira, conforme retratados no livro, são um impactante mergulho na realidade da então ditadura de Hafez Al-Assad na Síria.

Comentários:

O Árabe do Futuro, de Riad Sattouf, nada mais é do que o autorretrato de uma criança cuja infância se torna plural devido ao contato com diferentes culturas e costumes. Era para ser uma HQ divertida de ser apreciada. E até seria, se ele não mexesse tanto com o emocional do leitor.

No primeiro volume da trilogia – já resenhado por aqui – Riad ainda é muito pequeno e por isso não consegue compreender muito bem o porquê de vivenciar tradições tão desiguais, tampouco o contexto político que sei pai tanto faz questão de mencionar.

Já no segundo livro a jornada continua exatamente de onde parou, mas, no meu ponto de vista, ganha mais solidez e aborda questões mais sérias. Nele, toda a família se instala de uma vez na Síria (a trama se passa nos anos de 1984 e 1985), e assim nós iremos presenciando, junto a eles, as péssimas condições do país naquela época (aliás, hoje continua mais ou menos a mesma coisa).

Até quem tem uma noção mínima sobre a realidade do lugar não escapa de impressionar-se com os costumes, com a desigualdade, com a pobreza, com educação, com a (in)segurança, e com várias outras questões abordadas. E é com tudo isso que Riad precisa lidar, especialmente agora que ele passa a frequentar a escola para enfim começar sua alfabetização.

Vale destacar que a escola que Riad está matriculado preocupa-se mais em ensinar o Corão e o hino da Síria através de castigos muitas vezes sem motivos, do que de fato a educar os alunos orientando-os a ler e escrever. Somado a isso, o pai de Riad enfim passa a ver que seu status de doutor não tem valor algum para aquele lugar.

Não vou me alongar no contexto da trama, porque a sinopse já se encarrega de ser bem precisa nesse sentido. Mas gostaria de citar algo que se destaca fortemente aqui: o papel da mulher dentro dessa sociedade. Muita coisa interessante e problemática é explanada. A mãe de Riad, por exemplo, embora não seja oprimida pelo marido, precisa aturar certas condições que, aos poucos, vão desagradando-a. Até ela chegar ao ponto de fazer certas exigências ao marido.

Ademais, as contradições do pai frente a política e aos costumes da Síria continua sendo abordado. Ele percebe as dificuldades, mas permanece se negando a reconhecer os problemas de seu país. Tudo isso, claro, é mostrado sob o olhar de um menino, deixando tudo ainda mais interessante.

Gostei bastante da HQ como um todo, principalmente porque as questões sérias são contatas com certo humor, por um ponto de vista tecnicamente indiferente. A história vai tomando um percurso mais realista, bastante verossímil, o que é muito atrativo. As ilustrações permanecem com a mesma qualidade: traços simples, mas que nos dão uma noção bem verdadeira dos lugares.

É sempre difícil e cruel ler questões voltadas para a desigualdade, injustiça e miséria. Mas recomendo demais esse quadrinho para todos que curtem saber mais sobre outras nações, tradições e costumes de modo generalizado. Apesar de difícil, ele nos gratifica com reflexões bem interessantes.

*Cortesia cedida pela Editora Intrínseca.


Um Comentário

  1. Realmente preciso ler essas HQs, Fran. É compreensível que o segundo volume seja um pouco mais intenso, acredito que por retratar um período em que Riad estava um pouco maior ele começava a ter mais compreensão das coisas. Mas ainda com a inocência de uma criança. Ai, quero muito ler. Enfim, ótima resenha.

    Beijos!

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